Precisaria de um poema com crítica social, como aqueles que Castro Alves soube, com inflamação, declamar na denúncia da situação indigna dos negros. A poesia serve também para denunciar as mazelas da sociedade. E tentou:
Meninos da Matriz
da peteca e da bola
da mão indo ao nariz
a terra vai e cola
Meninos da manhã
que vendem unha e “chopp”
Esperem! Necessitava de versos com um mínimo de dez sílabas métricas; esses (não sei como conseguiu sem escandir) continham apenas seis. O tema era bom; ainda bem que o Conselho Tutelar já age nesse assunto socialmente vergonhoso, e há um programa do governo muito bom que tenta erradicar o trabalho infantil em nosso município. Esse poema seria só mais uma denúncia?!
A lembrança passeou agora pela ironia, às vezes sarcástica, de Matos Guerra e questionou, como ele fizera há séculos, sobre a honra, a verdade que poderia estar nos faltando. Lembrar-me-ão também como um “Boca do inferno”? Tentaria ser mais sutil, porém:
Ó cidadezinha filha da fruta
Da fruta que teus próprios filhos comem
Quais os homens que tomam a batuta
E nessa luta quantos te consomem?
Certamente Cazuza aprovaria, pensou. Mas nosso cauto poeta queria algo que encantasse a todos, que quem lesse pudesse dizer “Meu Deus, nunca vi lugar-comum tão poeticamente bem arquitetado!”; e pudesse suspirar singularmente satisfeito.
Sua mente teimou em rever os assuntos e as riquezas de nosso mundinho: dança folclórica, festa do boi-bumbá, enraizadas e muito bem alimentadas pelo professor Aristeu; encantamento de boto e de mãe-do-mato, sobre os quais os professores Edinelson, Cristina, Jorge e Ló já devem ter contado; a cerâmica insiste, resiste nas mãos do Anaías, do Carlos, do Assis e do Adelino; Enfim, as aflições humanas, a hipocrisia de alguns etc., tudo isso o nosso escritor maior - Dalcídio - magistralmente já se enveredou. Maravilhoso que hoje as artes em Ponta de Pedras ganham com o aumento do mecenato; cita-se, como exemplo, a dona Regina que está resgatando nosso teatro.
Nosso poeta voltou os olhos para o bloco novamente. Apelou para o trabalho árduo, forçando um poema a se desprender, sabe-se lá de onde; quis martelá-lo, limá-lo conforme fizeram alguns parnasianos, e o que conseguiu foi um escrito artificial e ornado.
Definitivamente, este ano não participaria do concurso de poesia da cidade. Desistiria?
Ah, o amor por sua terra era tamanho que não admitiria ter falhado na empreita de que tanto já havia se orgulhado.
O sol agora beijava as árvores lá na curva do estradão. Guardou o bloco e a caneta. O semblante mostrou uma expressão de alívio (pensava ele em uma outra oportunidade feliz?). E no retorno a sua casa, cantarolava algo de que não se dera conta que ele mesmo compusera... assim:
Amo-te tanto tanto, de um amar sem fim
E não julgo nunca terminar esse atrito
Que muito faz desse amor o infinito
Que o próprio amor que tenho e sinto por mim.
Seria uma força inconsciente que o impelia a não desistir? Ah, nosso poeta de Ponta estava destinado a isso, sim.
(1º lugar no concurso literário de Ponta de Pedras)
Meninos da Matriz
da peteca e da bola
da mão indo ao nariz
a terra vai e cola
Meninos da manhã
que vendem unha e “chopp”
Esperem! Necessitava de versos com um mínimo de dez sílabas métricas; esses (não sei como conseguiu sem escandir) continham apenas seis. O tema era bom; ainda bem que o Conselho Tutelar já age nesse assunto socialmente vergonhoso, e há um programa do governo muito bom que tenta erradicar o trabalho infantil em nosso município. Esse poema seria só mais uma denúncia?!
A lembrança passeou agora pela ironia, às vezes sarcástica, de Matos Guerra e questionou, como ele fizera há séculos, sobre a honra, a verdade que poderia estar nos faltando. Lembrar-me-ão também como um “Boca do inferno”? Tentaria ser mais sutil, porém:
Ó cidadezinha filha da fruta
Da fruta que teus próprios filhos comem
Quais os homens que tomam a batuta
E nessa luta quantos te consomem?
Certamente Cazuza aprovaria, pensou. Mas nosso cauto poeta queria algo que encantasse a todos, que quem lesse pudesse dizer “Meu Deus, nunca vi lugar-comum tão poeticamente bem arquitetado!”; e pudesse suspirar singularmente satisfeito.
Sua mente teimou em rever os assuntos e as riquezas de nosso mundinho: dança folclórica, festa do boi-bumbá, enraizadas e muito bem alimentadas pelo professor Aristeu; encantamento de boto e de mãe-do-mato, sobre os quais os professores Edinelson, Cristina, Jorge e Ló já devem ter contado; a cerâmica insiste, resiste nas mãos do Anaías, do Carlos, do Assis e do Adelino; Enfim, as aflições humanas, a hipocrisia de alguns etc., tudo isso o nosso escritor maior - Dalcídio - magistralmente já se enveredou. Maravilhoso que hoje as artes em Ponta de Pedras ganham com o aumento do mecenato; cita-se, como exemplo, a dona Regina que está resgatando nosso teatro.
Nosso poeta voltou os olhos para o bloco novamente. Apelou para o trabalho árduo, forçando um poema a se desprender, sabe-se lá de onde; quis martelá-lo, limá-lo conforme fizeram alguns parnasianos, e o que conseguiu foi um escrito artificial e ornado.
Definitivamente, este ano não participaria do concurso de poesia da cidade. Desistiria?
Ah, o amor por sua terra era tamanho que não admitiria ter falhado na empreita de que tanto já havia se orgulhado.
O sol agora beijava as árvores lá na curva do estradão. Guardou o bloco e a caneta. O semblante mostrou uma expressão de alívio (pensava ele em uma outra oportunidade feliz?). E no retorno a sua casa, cantarolava algo de que não se dera conta que ele mesmo compusera... assim:
Amo-te tanto tanto, de um amar sem fim
E não julgo nunca terminar esse atrito
Que muito faz desse amor o infinito
Que o próprio amor que tenho e sinto por mim.
Seria uma força inconsciente que o impelia a não desistir? Ah, nosso poeta de Ponta estava destinado a isso, sim.
(1º lugar no concurso literário de Ponta de Pedras)
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