Escrito...

A minha literatura diz e não diz: diz porque, no momento de aspersão inspiradora, (quase) se nota uma fisgada de incomodidade, uma crítica sutil, para que a poesia floresça... Não diz porque as inquietações são dialéticas - parte de cada leitor -, o que se vive, sonha, pensa e sente...

segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Você me ama mesmo



 
...vem sentir as batidas frementes no meu peito quando do seu passar por mim... vem amanhecer sentindo o aroma do dia, da vida, temperado de alegria porque habita em mim... vem ver o por-do-sol mais lindo, sendo linda, o revoar da passarada enfeitando o céu de movimentos e gritos de vidas... vem acontecer de mistérios quando falamos sérios sobre se você e eu gostamos mesmo assimmmmmmmmmt... vem deixar o seu perfume na sala e encher o resto da casa com sua voz terna e louca, louca, louca, muito louca por mim... vem imaginar-me no trabalho enquanto imagino você num atalho, conservando nosso caminho quando queremos só carinho e aquele silêncio manhoso... vem ver outro filme comigo, e saber que sou seu companheiro e amigo, que, confuso e pateta, erra o roteiro, esse que você também nem atenção prestou por estarmos presos em nossa própria história... vem entrar numa loja, diz para a moça atendente que seu amor não quer presente, mas que precisa dormir na sua, que precisa muito de você... vem pedir uma PROVA DE AMOR (sinta o meu calor!) quando já lhe mostrei todas possíveis e ainda assim intento mais, mais esta... vem sonhar, sorrir, dormir de boca aberta (o que nos resta? AMAR) de tão anjo de mim... vem ordenar que eu seja somente seu (sempre fui, pressinto) mesmo sabendo que já não tenho posse de mim, sendo assim seu, seu namorado, seu noivo inventado e esposo apressado... vem me dizer que só quer um filho (uma barrigada! RS) quando multiplico-o por dois para convencer você de que o relógio da vida, do amor é movido a carinhos, cuidados, atenções, levezas, responsabilidades de um para com o outro mutuamente: família... vem formá-la do seu jeito para que eu sirva a ela com humildade e apreço... vem dourar com seu ser de luz todos os problemas, pois dessa forma nunca saberemos que os temos (temos o quê?)... vem - a vida feita só de pão não tem graça - se encantar com os sonhos, me amar sem condição, já que sou seu num infinito de um grito de existência, num infinito estranho de uma bola qualquer no universo... vem que valeu apenas estar e pensar em você, valeram a pena os perigos - , convença-se de que já morri estando vivo, se você não gostasse de mim... vem que tem na minha lembrança um ser com coração (CORAÇÃO!) de esperança, cuja existência já me era reconhecida de outros tempos remotos talvez - meu Deus!... vem assim, dizendo bobagens, rindo de nada e de si, falando verdades, notando que a vida sem amor é uma viagem insossa com chegada tediosa mesmo quase sem fim... vem para essa travessia comigo, as ondas são nossas amigas e a praia é logo ali... vem furiosa, teimosa, traz aquele aconchego de colo que sabe que meio sem jeito adoro, porque conhece quando estou alegre, triste ou bravo... vem viver nesse azul comigo, vamos provar que o amor tem suas próprias razões; quero dizer para sempre que encontrei a minha eterna pessoa certa, minha namorada... vem, vem, porque TEAMO, teamo, teamo, assim: do nada!
 
Jonas Furtado

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Lições da vovó

                     

               Na pressa, joguei de longe a roupa suja; caiu fora da bacia.
               Minha avó:
               _ O preguiçoso sempre trabalha mais!
               Voltei para apanhar a roupa...



 Jonas Furtado

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Antigamente




Em mil novecentos e antigamente se estudava à luz de lamparina; aprendia-se que quem descobriu o Brasil foi Pedro Álvares Cabral, e que um coque na cabeça não fazia mal.
          _E ela arriava um cocorote macio no coco do garoto!


Jonas Furtado

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Mestres do Marajó

Dó, Ré, Mi, Fá, Sol... Mestre Antônio Pereira
Por Jonas Furtado
 
Foi com um famoso solfejo que o músico Paulo Sérgio Pereira (o amigo Catita) homenageou o mestre Antônio Pereira por ocasião dos seus 80 anos de uma vida simples, mas poeticamente musical, construída com muito trabalho e dedicação. O acontecimento se deu na sede social da AMAM (Associação Musical Antônio Malato) no início do ano corrente, e se prolongou durante uma semana com festejos e encontros em torno de uma das personalidades mais importantes para a cultura e para a educação musical em Ponta de Pedras.
Mestre Antônio Pereira aprendeu música com seu pai, um dos primeiros instrutores da banda musical do município, logo aos dez anos; estudou até o primário do Ensino Fundamental. A música está em seu sangue; um dos primeiros instrumentos a tocar foi uma viola e um cavaquinho, e mais tarde aperfeiçoou-se em saxofone e clarineta, dentre outros. A facilidade com que aprendia música era notada e logo se tornou um dos maiores e mais dedicados professores de música de Ponta de Pedras.

Tem como filosofia de vida o aprofundamento do sempre aprender e conhecer para atingir a perfeição e junto com isso o respeito. “...sempre foi um exemplo de dedicação e amor a tudo que faz, vindo diariamente de seu sítio ... para ministrar suas aulas...; enfrentando todo tipo de adversidade...”, comenta Rosiberto de Castro, músico e atual presidente da AMAM.
Quanto a nós, lembro claramente as primeiras aulas de teoria musical; ainda posso definir o que é música e em quantas partes ela se divide, aprendi a educar meus ouvidos com acordes sonoros e metálicos de um saxofone que encanta até hoje minha mente. É como disse o poeta Ló Martins (em homenagem ao mestre), os instrumentos “... Talvez tocassem mais uma melodia para homenagear aquele que com sutileza e maestria discorreu seus dedos e tirou [dos instrumentos] notas repletas de emoção...”. É com apreço e gratidão que homenageamos também nesta nota esse homem valoroso que é o mestre Antônio. PARABÉNS!
 
Crônica publicada pela ocasião dos 80 anos do músico Antônio Pereira

terça-feira, 24 de julho de 2012

É isso


Dito dúvidas, ela se escorou na porta que se foi abrindo a seu peso.
          Aos tropeços adentrou. Levantou o olhar, houve luz. Sentiu o pulso da vida...
          "Pronto! Invadi seu coração!"

(Publicado na Agenda Literária 2011 - Literacidade editora: Belém/PA)

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Dia dos namorados

 
          Passou pela conversa... e entendera, no tom explicativo da voz feminina, assim:
         "Mor, céu na bolsa!"
          Comprara ela um pedacinho do céu, um mundo de sonhos, para presenteá-lo. Que lindo! - pensou. E passou...
          Então, decidiu ficar apenas com esse sentido fonemático. E escreveu esta crônica... porque sonhou.

 
Jonas Furtado

A escolha da farinha

          Fora comprar o açaí.
          _ Litro e meio!
          Enquanto esperava, notou que havia farinha d'água à venda. Examinou. Dois tipos. Faltaria a farinha para o almoço? Já pensou ter que voltar? Por que não verificou antes?! Na dúvida, resolveu levar também.
          Voltou a olhar atentamente no balcão os poucos quilos comportados lado a lado. Confirmou: um tipo branquinha branquinha, de aspecto polvilhado, opaca, seca, fina; outra levemente amarelada, todavia com uma tênue vivacidade que remetia a certa crocância característica, que dava ao açaí o exato sabor do Marajó: leve e carregado.
          _ Pronto, seu Zílber. Sete e cinquenta.
          _ Dê-me dois dessa farinha aí.
          Não teve dúvida na escolha. O preço? O mesmo. Levaria a melhor.
          _ Garanto que o senhor vai gostar mais desta outra. As aparências às vezes enganam!
          _ Se o amigo garante, dois então.
          _ Doze e cinquenta tudo.
          Pagou e saiu para casa, pensando no almoço.
          Tudo posto. Mesa, corpo e vontade de comer. Prova a farinha. Credo! Ruim ruim! Tinha percebido a cara de doente das pesadas à direita. Bom experiente em farinha, o que as esporádicas lançadas a punho (memorizadamente afinados sabor, cor e textura) no Ver-o-peso lhe ensinaram, dificilmente errava. Escolhera agora uma, e o vendedor lhe recomendava outra! Queria era desempatar a mercadoria, aquele negociante fulo, esperto! Engoliu o bocado. Depois tareou na composição do prato para o agrado do gosto. Fome maior, tempero exato! O açaí era razoável para uma entressafra; mas as farinhas, pensava, não eram do mesmo saco!
          Como era passada da volta do trabalho, acostumou-se a comprar naquela máquina.
          No dia seguinte, deu pausa na iguaria e, pela troca, para o acompanhamento da comida, cozinhou uns poucos piquiás... resquícios de temporada. Mas a farinha, a mesma: ruinzinha ruinzinha!
         Vai que outra vez, caboclo da gema da cuia, passava pela venda em busca do vinho predileto. Notou que os quilos restantes do outro dia não estavam mais lá, no balcão; vendera o astuto batedor de açaí... Solicitou então litro e meio de açaí.
         _ E a farinha, seu Zílber?
         _ Não me agradou aquele tipo que o amigo recomendou-me.
         O comerciante sentiu certo despeito.
         _ Sabe, seu Zílber, o senhor só diz assim porque não provou da outra! - e fechou a cara.

Jonas Furtado